Nessa etapa final da Educação Básica, o processo avaliativo tende a se tornar mais classificatório, uma vez que ganha uma dimensão mais somativa, ou seja, a avaliação tem como foco os processos seletivos de acesso ao Ensino Superior.
O Ensino Superior faz parte do projeto de vida da maior parte dos estudantes do Ensino Médio. Por isso, os sistemas que promovem a seleção para o ingresso a Faculdades e Universidades, organizados de forma classificatória e seletiva, passam a fazer parte da prática avaliativa dos anos finais escolares. O objetivo principal seja do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), dos Programas de Avaliações Seriadas (PAS), ou mesmo dos diversos Vestibulares, é avaliar o desempenho escolar dos estudantes após a conclusão da Educação Básica.
Portanto, se faz necessário refletir acerca da influência da aplicação desse sistema ao longo dos três anos do Ensino Médio. A aplicação de exames e provas que simulam tais processos seletivos não pode ser o único recurso avaliativo dessa fase tão importante e conclusiva da Educação Básica.
Esse é um grande obstáculo frente à necessidade de repensarmos os processos avaliativos no contexto educativo, uma vez que a escola se vê pressionada e acaba por reproduzir a visão fragmentária e opressora da avaliação.
Um estudo realizado por Leite e Kager (2009) demonstrou que as práticas tradicionais de avaliação escolar no contexto do Ensino Médio podem ter efeitos deletérios na relação que se estabelece entre os alunos e os objetos de conhecimento em questão. Esse estudo envolveu estudantes do 3º ano do Ensino Médio ou curso pré-vestibular, em escola pública ou privada, os quais vivenciaram experiências aversivas de práticas de avaliação durante a vida escolar.
Por meio de relatos, foram identificadas algumas situações ou aspectos possíveis determinantes da aversão em relação à avaliação e seus efeitos na vida dos estudantes. Dentre essas situações, destacamos:
Quadro 8: Relatos e efeitos.
Fonte: Leite e Kager (2009), com adaptações.
Diante dos elementos apresentados, há que se reconhecer que o cenário que envolve o processo avaliativo, sobretudo na etapa final da Educação Básica, é complexo e reprodutor de práticas avaliativas classificatórias e excludentes, espelhando em grande medida os exames vestibulares para acesso ao Ensino Superior e as provas de concursos para acesso ao serviço público.
No entanto, podemos pensar e propor estratégias avaliativas com vistas ao atendimento dessa demanda, levando em conta o desenvolvimento da autonomia, do pensamento crítico-reflexivo e do protagonismo dos educandos.
Sugestões para a prática pedagógica:
- Construir espaço relacional entre professor e estudante, objetivando a possibilidade, por parte do professor, de conhecer as competências e necessidades próprias de cada estudante que possibilitem a aprendizagem personalizada. As atitudes de interesse, disponibilidade e aceitação por parte do professor ajudam o estudante a se desenvolver e avançar.
- Implementar e diversificar as ações pedagógicas cotidianas, com a adoção de metodologias ativas que oportunizem a modificação da prática do professor e a consequente alteração dos seus processos de avaliação.
- Diversificação de atividades e/ou recursos de avaliação formal (provas, avaliação por pares, portfólio, registros reflexivos, seminários, pesquisas, trabalhos em grupo, autoavaliação, entre outros), que possibilite uma ampla coleta de informações sobre os estudantes, na perspectiva de utilização dos resultados em favor de melhorias no trabalho desenvolvido e, em decorrência, nas aprendizagens personalizadas dos estudantes.
- Reconhecimento da pluralidade existente em sala de aula, visando aprimorar a análise dos avanços de cada estudante em diferentes momentos do processo de ensino e aprendizagem, desestimulando a prática de comparação entre os estudantes, bem como a classificação, que conduz à exclusão que é uma atitude contrária à avaliação formativa, que tem a inclusão como princípio fundamental. A comparação é o ponto inicial para inibir o avanço do estudante.
- Estar atento a cada estudante, diagnosticando e oferecendo feedbacks sobre o desenvolvimento de suas aprendizagens e necessidades; buscando, em conjunto, estratégias pedagógicas que possibilitem a superação das dificuldades por meio de uma atitude investigativa que oportunize o automonitoramento e a autoavaliação das aprendizagens.
- Construir um processo permanente de avaliação que prestigie o conhecimento adquirido pelo estudante, compreendendo o erro como um estímulo à busca de novos conhecimentos e não como uma penalização pelas supostas aprendizagens ainda não adquiridas.
- Possibilitar processos autoavaliativos na Unidade de Missão, visando a participação de professores, estudantes, pais/responsáveis e demais profissionais, de maneira a construir um olhar mais aprofundado e crítico sobre a realidade escolar, evitando a implementação de processos de avaliação que privilegiem apenas a função somativa.
A seguir, abordaremos sobre o tema da educação inclusiva.
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