Tópico 8

Ensino Médio

Avaliação da Aprendizagem

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Nessa etapa final da Educação Básica, o processo avaliativo tende a se tornar mais classificatório, uma vez que ganha uma dimensão mais somativa, ou seja, a avaliação tem como foco os processos seletivos de acesso ao Ensino Superior.

O Ensino Superior faz parte do projeto de vida da maior parte dos estudantes do Ensino Médio. Por isso, os sistemas que promovem a seleção para o ingresso a Faculdades e Universidades, organizados de forma classificatória e seletiva, passam a fazer parte da prática avaliativa dos anos finais escolares. O objetivo principal seja do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), dos Programas de Avaliações Seriadas (PAS), ou mesmo dos diversos Vestibulares, é avaliar o desempenho escolar dos estudantes após a conclusão da Educação Básica. 

Portanto, se faz necessário refletir acerca da influência da aplicação desse sistema ao longo dos três anos do Ensino Médio. A aplicação de exames e provas que simulam tais processos seletivos não pode ser o único recurso avaliativo dessa fase tão importante e conclusiva da Educação Básica.     

Esse é um grande obstáculo frente à necessidade de repensarmos os processos avaliativos no contexto educativo, uma vez que a escola se vê pressionada e acaba por reproduzir a visão fragmentária e opressora da avaliação.

Um estudo realizado por Leite e Kager (2009) demonstrou que as práticas tradicionais de avaliação escolar no contexto do Ensino Médio podem ter efeitos deletérios na relação que se estabelece entre os alunos e os objetos de conhecimento em questão. Esse estudo envolveu estudantes do 3º ano do Ensino Médio ou curso pré-vestibular, em escola pública ou privada, os quais vivenciaram experiências aversivas de práticas de avaliação durante a vida escolar.

Por meio de relatos, foram identificadas algumas situações ou aspectos possíveis determinantes da aversão em relação à avaliação e seus efeitos na vida dos estudantes. Dentre essas situações, destacamos:

Quadro 8: Relatos e efeitos.

Relatos Efeitos
Medo e ansiedade Marcas na vida escolar dos sujeitos entrevistados.
Sentimento de incapacidade Desenvolvimento de um sentimento de incapacidade que contribui para a baixa autoestima.
Perda da motivação para estudar Perda do interesse pela disciplina, além do desânimo, como consequência do insucesso diante do tipo de avaliação adotada.
Frustração e exclusão Ao repetirem o ano letivo, após vivenciarem a experiência negativa com a avaliação.
Deterioração da relação sujeito-objeto Revelam que um dos efeitos mais graves das práticas de avaliação aversivas é a deterioração da relação sujeito-objeto, ou seja, os alunos, que vivenciaram experiências negativas com avaliação, desenvolveram aversão pela disciplina em que eram adotadas.
Controle de corpos Extrema preocupação, por parte dos educadores, com o controle dos alunos em dia de avaliação. As medidas tomadas acabam por transformar essa situação em um ritual desgastante e ameaçador.
A prova como armadilha Revolta diante das provas, que exigiam resolução de exercícios mais complexos que os trabalhados em sala de aula, revelando-se verdadeiras armadilhas, com situações imprevisíveis aos alunos.
Feedback punitivo Posturas e atitudes de alguns professores diante da classe, no momento da devolução das avaliações, reprimindo e humilhando os alunos que não foram bem. O feedback punitivo é uma das situações que mais potencializam a aversão dos alunos.
Preconceito do professor Atitudes de professores, diante do insucesso de seus alunos, consideradas como preconceituosas frente a eles, no sentido de não acreditarem em sua capacidade de recuperação.
Ausência de feedback Evidenciam situações em que os alunos não recebiam um retorno do professor sobre seu desempenho, mas somente eram informados sobre a nota que tinham tirado.
Avaliação como punição Caracterizam a avaliação como uma forma de punir os alunos, geralmente, diante de situações julgadas como indisciplina pelo professor. 
Memorização sem sentido Prática que exige dos alunos apenas memorização e não compreensão dos conteúdos estudados.
Avaliação com um fim em si mesma A avaliação é tida como uma prática, como um fim em si mesma e não numa perspectiva diagnóstica: seu objetivo é classificar os alunos.
O melhor aluno como parâmetro Professores que tomam como parâmetro, para elaboração das avaliações, os alunos com melhores desempenho.
O professor como um fator potencializador da aversão Ocorre por meio de diferentes formas de agir. Na maior parte das vezes, o mau relacionamento entre professor e aluno gera sentimentos de raiva, ódio e a sensação de desprezo e humilhação, por parte dos alunos.
A condição potencializadora do efeito aversivo em casa Situações que potencializaram a aversão em relação à avaliação vivenciada, em casa, através da incompreensão dos pais que agridem devido às notas baixas.
Sobrecarga na semana de provas Sobrecarga de conteúdos exigidos pela escola na semana de provas, prejudicando o desempenho do aluno. Demonstra claramente as dificuldades do sistema de avaliação adotado pela escola e suas consequências.

Fonte: Leite e Kager (2009), com adaptações.

Diante dos elementos apresentados, há que se reconhecer que o cenário que envolve o processo avaliativo, sobretudo na etapa final da Educação Básica, é complexo e reprodutor de práticas avaliativas classificatórias e excludentes, espelhando em grande medida os exames vestibulares para acesso ao Ensino Superior e as provas de concursos para acesso ao serviço público.

No entanto, podemos pensar e propor estratégias avaliativas com vistas ao atendimento dessa demanda, levando em conta o desenvolvimento da autonomia, do pensamento crítico-reflexivo e do protagonismo dos educandos.

Sugestões para a prática pedagógica:

  • Construir espaço relacional entre professor e estudante, objetivando a possibilidade, por parte do professor, de conhecer as competências e necessidades próprias de cada estudante que possibilitem a aprendizagem personalizada. As atitudes de interesse, disponibilidade e aceitação por parte do professor ajudam o estudante a se desenvolver e avançar.
  • Implementar e diversificar as ações pedagógicas cotidianas, com a adoção de metodologias ativas que oportunizem a modificação da prática do professor e a consequente alteração dos seus processos de avaliação.
  • Diversificação de atividades e/ou recursos de avaliação formal (provas, avaliação por pares, portfólio, registros reflexivos, seminários, pesquisas, trabalhos em grupo, autoavaliação, entre outros), que possibilite uma ampla coleta de informações sobre os estudantes, na perspectiva de utilização dos resultados em favor de melhorias no trabalho desenvolvido e, em decorrência, nas aprendizagens personalizadas dos estudantes.
  • Reconhecimento da pluralidade existente em sala de aula, visando aprimorar a análise dos avanços de cada estudante em diferentes momentos do processo de ensino e aprendizagem, desestimulando a prática de comparação entre os estudantes, bem como a classificação, que conduz à exclusão que é uma atitude contrária à avaliação formativa, que tem a inclusão como princípio fundamental. A comparação é o ponto inicial para inibir o avanço do estudante.
  • Estar atento a cada estudante, diagnosticando e oferecendo feedbacks sobre o desenvolvimento de suas aprendizagens e necessidades; buscando, em conjunto, estratégias pedagógicas que possibilitem a superação das dificuldades por meio de uma atitude investigativa que oportunize o automonitoramento e a autoavaliação das aprendizagens.
  • Construir um processo permanente de avaliação que prestigie o conhecimento adquirido pelo estudante, compreendendo o erro como um estímulo à busca de novos conhecimentos e não como uma penalização pelas supostas aprendizagens ainda não adquiridas.
  • Possibilitar processos autoavaliativos na Unidade de Missão, visando a participação de professores, estudantes, pais/responsáveis e demais profissionais, de maneira a construir um olhar mais aprofundado e crítico sobre a realidade escolar, evitando a implementação de processos de avaliação que privilegiem apenas a função somativa.

A seguir, abordaremos sobre o tema da educação inclusiva.

Leitura Concluída

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