Eixo 5

Ciência, Tecnologia e Inovação

Ensino Médio

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Presença vivencial

 A humanidade entrou numa nova era, em que o poder
da tecnologia nos põe diante duma encruzilhada.
Somos herdeiros de dois séculos de ondas enormes de
mudanças: a máquina a vapor, a ferrovia, o telégrafo, a
electricidade, o automóvel, o avião, as indústrias
químicas, a medicina moderna, a informática e, mais
recentemente, a revolução digital, a robótica, as
biotecnologias e as nanotecnologias. É justo que nos
alegremos com estes progressos e nos entusiasmemos
à vista das amplas possibilidades que nos abrem estas
novidades incessantes, porque «a ciência e a tecnologia
são um produto estupendo da criatividade humana que
Deus nos deu».
Papa Francisco - Laudato Si - 102
Papa da Igreja Católica

Importantíssima essa referência que o Papa Francisco faz ao significado do conhecimento, expresso na ciência e na tecnologia, para a compreensão de nossas próprias capacidades como seres humanos. E é sobre isso que vamos conversar neste eixo 5 que trata da Ciência, da Tecnologia e da Inovação. Essa proposta nos provoca a refletir sobre como estamos e estaremos nos relacionando com essa realidade que se torna, a cada dia, mais desafiadora para o espaço educativo.

Então, convido você agora a fazer um breve exercício de entrar em seu mundo tecnológico. Tal exercício você também pode fazer com seus educandos. 

Observe a imagem abaixo:

Coloque os seus óculos virtuais e dê um passeio pela sua história, buscando verificar as diversas mudanças de tecnologias que você tem presenciado em sua vida até aqui.

Reflita

Faça uma pausa e reflita: 

Como você se sentiu ao fazer esse exercício? Conseguiu perceber por quantos processos tecnológicos você já passou em sua vida até aqui? O quanto esses processos te ajudaram e o quanto te deixaram incomodado(a)?

Com esse exercício, desejamos que você tenha conseguido se perceber como um sujeito que está imerso nesse mundo carrega, dentro de si, um espaço tecnológico, que, por sua vez, contém muitos “mundos” que nos desafiam a cada dia em nossas ações.

Um grande desafio, não é mesmo?  Venha com a gente e vamos conversar mais sobre isso.

Proximidade conceitual

Inegável o reconhecimento de que as tecnologias estão presentes em nosso cotidiano e fazem parte de nossas vidas, desde o entretenimento até os produtos que diuturnamente utilizamos para as nossas rotinas tais como trabalho, locomoção, organização da vida, contatos etc. Portanto, o sentido da ciência é inerente às questões tecnológicas e suas finalidades, e essas já estão inseridas nas nossas vidas e na nossa realidade.

Por ciência, etimologicamente do latim “scientia”, temos o significado do conhecimento que, num senso bem geral, refere-se ao saber sistemático, saber que não é só teórico, mas também prático. Tendo clareza que existem outros tipos de conhecimentos, vamos considerar aqui que a ciência é apenas uma das formas de conhecer o mundo/universo e de nos relacionarmos com ele. Isso porque ela utiliza um método que lhe é próprio, qual seja, o “método científico”. 

A existência cotidiana e absolutamente integrada da ciência em nossas vidas, por intermédio das tecnologias, exige que tenhamos habilidades e competências para a leitura dessa realidade que nos cerca, e a devida adaptação a ela, o que implica  um tipo específico de formação. Segundo Castells (2020), estamos absolutamente imersos na realidade virtual que convive com a realidade concreta, além disso, cada vez mais, o espaço digital estará presente em nossa vida. Por isso, é imprescindível que saibamos ler e interpretar essas realidades. Estamos nos referindo ao que se intitula como Letramento Científico e Tecnológico, sob o enfoque Ciência-Tecnologia-Sociedadde (CTS).

Ao tratar do termo “letramento”, Cunha (2017) afirma que tal conceito aparece no discurso dos especialistas em linguagem e leitura nos idos de 1980, na perspectiva da “distinção entre o mero aprendizado da codificação da escrita, a alfabetização, e o impacto de seu efetivo uso em práticas sociais.”

Ademais, o mesmo autor aponta que precisamos contextualizar que o referido conceito foi inicialmente utilizado pelos cientistas da comunidade estadunidense, nos anos de 1950, como forma de aproximação da ciência à sociedade em geral, em face das disputas espaciais que estavam acontecendo naquele período, como nos apresenta Cunha (2017):

Destaque

o ímpeto pelo interesse em letramento científico no final dos anos 1950 provavelmente se deu pela preocupação da comunidade científica americana em relação ao apoio público à ciência a fim de responder ao lançamento soviético do Sputinik [...] No mesmo período, os americanos – novamente estimulados pela corrida espacial – passaram a se preocupar se seus filhos estavam recebendo o tipo de ensino que os capacitaria a enfrentar uma sociedade de crescente sofisticação científica e tecnológica. 

No decurso da história do conhecimento e do desenvolvimento científico e tecnológico, a ciência e a tecnologia se fizeram cada vez mais presentes e fundamentais. Atualmente, o letramento científico e tecnológico se mostra absolutamente imprescindível para a compreensão da vida e da realidade em que se vive. Em face desse entendimento, Motta-Roth (2011) aponta que o letramento científico precisa ser compreendido como um conceito amplo e complexo que pressupõe quatro diferentes e importantes dimensões:

  1. o conhecimento dos produtos da ciência e da tecnologia, dos sistemas simbólicos que as expressam e constroem, dos seus procedimentos, produtores e usuários (DURANT, 2005 apud KRAEMER, 2014, p. 99), mas; 
  2. “a atitude diante da experiência material ou mental, a abertura para mudança de opinião com base em novas evidências, a investigação sem preconceito, a elaboração de um conceito de relações de causa e consequência, o costume de basear julgamentos em fatos e a habilidade de distinguir entre teoria e fato” (MILLER, 1983, p. 31 apud KRAEMER, 2014, p. 99); 
  3. a compreensão e a produção de textos e discursos que projetam opiniões sobre ciência e tecnologia, pautadas pelo entendimento das relações entre ciência e tecnologia e o mundo em que se vive (SANTOS, 2007 apud KRAEMER, 2014, p. 99); 
  4. a capacidade de fazer escolhas políticas que inevitavelmente advém da consciência do impacto da ciência e da tecnologia na sociedade (MILLER, 1983, p. 31 apud KRAEMER, 2014, p. 99).

E conclui a autora:

O letramento científico oferece as condições para o real engajamento da população no debate em torno da ciência na sociedade contemporânea e para o desenvolvimento de uma opinião quanto aos efeitos das inovações científico tecnológicas e os eventuais riscos acarretados por seu uso (MOTION; DOOLIN, 2007 apud MOTTA-ROTH, 2011). Um conceito amplo de letramento científico envolve assim o conhecimento dos conteúdos da ciência e a percepção ampla de questões políticas e sociais, envolvendo a ciência de modo a formar um “letramento científico para a cidadania” (MILLER, 1983, p. 32). 

O debate sobre letramento científico e tecnológico nos remete ao conceito de inovação, que vamos aqui considerar como um pensar criativo que, diante dos desafios apresentados e em face dos conhecimentos que já detém, o indivíduo elabora uma resposta eficaz. Não necessariamente a inovação tem relação com algo totalmente inédito, pode ser adaptações não vislumbradas até o momento.

Ao conceito de inovação agregamos como necessário e imprescindível o conceito de pensamento crítico e criativo, uma das competências instituídas na Base Nacional Comum Curricular – BNCC, sobre a qual nos deteremos de forma mais específica no Eixo 8 - Protagonismo Aprendente. Tal conceito é aquele que implica uma rede cognitiva e social, a qual mantém seus participantes sempre expostos a conhecimentos e comportamentos novos, o que implica questionamentos, interpretações, redesenhos.

Saiba Mais

Gardner (2002, p. 46) fundamenta a relação dialética entre a criatividade e a inteligência afirmando que:

“Uma competência intelectual humana deve apresentar um conjunto de habilidades de resolução de problemas, capacitando o indivíduo a resolver problemas ou dificuldades que ele encontra e, quando adequado, a criar um produto eficaz e deve também apresentar o potencial para encontrar ou criar problemas por meio disso, propiciando o lastro para a aquisição de conhecimento novo.”

Portanto, o pensamento crítico e criativo é uma forma de pensar (cognitivo) com critérios autocorretivos e sensíveis ao contexto no qual o indivíduo se encontra, mostrando-se comprometido e habilidoso na produção de juízos, o que leva aquele que pensa a organizar o seu pensamento e ter a possibilidade de reelaborá-lo. Ademais, como sempre estamos no espaço dialógico (social), temos como consequência as trocas de pensamentos, o que nos possibilita aprofundar e inovar os conhecimentos tidos (LIPMAN, 2008; FREIRE, 2011).

Nesse sentido, a criatividade pode ser considerada de utilidade enquanto é legitimada e ajusta-se ao seu projeto. Pode também ser considerada original em duas perspectivas: para o indivíduo que a criou e para a sociedade que dela irá usufruir. Sobre isso diz a BNCC (BRASIL, 2018, p. 63):

Destaque

É importante que a instituição escolar preserve seu compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofundada e contribua para o desenvolvimento, no estudante, de uma atitude crítica em relação ao conteúdo e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais. Contudo, também é imprescindível que a escola compreenda e incorpore mais as novas linguagens e seus modos de funcionamento, desvendando possibilidades de comunicação (e também de manipulação), e que eduque para usos mais democráticos das tecnologias e para uma participação mais consciente na cultura digital. Ao aproveitar o potencial de comunicação do universo digital, a escola pode instituir novos modos de promover a aprendizagem, a interação e o compartilhamento de significados entre professores e estudantes.

Tais conceitos (letramento científico e tecnológico, inovação, dentre outros) têm sido marcos do fazer pedagógico contemporâneo, na perspectiva da educação básica, fazendo com que cada vez mais possamos encontrar formas de produzir ideias próprias, personalizadas, não copiadas. 

Nessa perspectiva, encontramos a Cultura Maker, uma ampliação da filosofia “Do It Yourself”, conceito surgido nos Estados Unidos nos anos 1900 que, na tradução para o português, significa “Faça Você Mesmo”. A partir do “Do It Yourself”, as pessoas eram encorajadas a fabricar seus objetos, realizar reparos e reformas em suas casas etc., o que daria oportunidade para que elas tornassem realidade as suas ideias. Seguindo na mesma perspectiva, a proposta maker é que haja, por parte de cada um e de cada uma, o desenvolvimento de ideias, de tecnologias, de projetos que possam fazer as pessoas se sentirem criativas e promotoras de conhecimentos.

No espaço educativo, a Cultura Maker surge como aliada no processo de aprendizagem, uma vez que objetiva fazer com que os educandos possam desenvolver o seu lado criativo; o ambiente e as atividades educativas passam a ter um caráter mais de experimentação, prática de conhecimentos e exercício direto de saberes, tendo nas Metodologias Ativas o seu principal canal promotor. 

Ainda como artefato da Cultura Maker, as metodologias hands-on propõem experiências de aprendizagem em que o estudante é o protagonista de atividades nas quais desenvolvem-se as habilidades de planejar, criar e colocar a “mão na massa”; diferentemente de uma metodologia tradicional voltada prioritariamente para a assimilação de conceitos e teorias. O conceito de hands-on está ancorado nas metodologias ativas de ensino, e tem como princípio estimular a efetiva participação dos estudantes, variando o modelo tradicional, problematizando a realidade e colocando o estudante à frente do problema, testando hipóteses, experimentando e criando soluções.

Com atividades embasadas na Cultura Maker, o educador tem em suas mãos ferramentas ativas importantíssimas para promover as chamadas “competências do século XXI” com seus educandos e, principalmente, fazer com que eles tenham voz no processo de ensino e aprendizagem.

Segundo Martins (2001), os projetos contribuem para que os estudantes participem e se comprometam com o próprio processo de aprendizagem, ao tempo em que compartilham com outros colegas; da mesma maneira, exigem que o educador encare os desafios de mudanças na forma de trabalhar os conteúdos escolares, tornando-se pedagogicamente mais flexível e aberto, diversificando e reestruturando suas metodologias.

Todos os conceitos até aqui trabalhados e as metodologias até aqui apresentadas se inserem em um mundo novo que está surgindo, com características muito peculiares. Trata-se de um mundo que precisa ser compreendido, posto que está se tornando realidade, apesar de se constituir em um espaço virtual. Estamos falando do Metaverso ou Mundo Digital Virtual, aqui entendido como espaço de convivência que possibilita o processo de uso de ferramentas para o desenvolvimento de aprendizagem, como qualquer outro espaço educativo ou metodologia.

O metaverso é um conceito que se constitui no ciberespaço, fruto de softwares de criação e construção de ambientes multimídias, que proporciona a comunicação e a interação por meio de diferentes suportes tecnológicos (LÉVY, 1999). Tais mecanismos trazem uma infindável gama de possibilidades de utilização de metodologias ativas, o que leva o educando ao desenvolvimento da criatividade, do pensamento, do conhecimento e, sendo um ambiente de interações, pode efetivar-se como um espaço de comunicação e trocas de saberes. 

No texto da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018), especificamente nos itens 4 e 5, vamos encontrar um entendimento de que as tecnologias na Educação Básica devem ser utilizadas objetivando a modernização dos recursos e das práticas pedagógicas, bem como fazendo com que o educando possa ter desenvolvidas competências e habilidades tidas como absolutamente essenciais para o exercício de seu protagonismo no processo de aprendizagem.

Muitos especialistas têm apontado para a necessidade urgente de que os espaços educativos se dediquem a trabalhar os “Quatro Cs – pensamento crítico, comunicação, colaboração e criatividade” (HARARI, 2018). Aqui, retomamos a importância de uma educação integral, que forme pessoas autônomas, responsáveis, verdadeiras cidadãs, com Competências, Habilidades e Atitudes, capazes de utilizar as TICs de modo seguro, inovador e disruptivo, o que significa fazer desses recursos instrumentos de verdadeira conexão, interação, com as necessidades concretas das pessoas, grupos e comunidades e, desse modo, colaborar com a construção de respostas consequentes.

Leitura Concluída

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