Tópico 3

Dimensões da Avaliação da Aprendizagem

Avaliação da Aprendizagem

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Presença vivencial

Descrição de imagem: a figura apresenta um desenho em que há alguns animais enfileirados, tais como macaco, pinguim, elefante, peixe em um aquário, uma foca e uma raposa. Há um homem sentado de frente para eles atrás de uma mesa, em que ele fala: “Para uma seleção justa, todos farão o mesmo exame: escalar aquela árvore”. A árvore se encontra atrás dos animais.

Há tempos, o compromisso das instituições e da sociedade com a educação escolar não se limita à garantia de acesso e permanência na escola. Não basta que crianças e jovens estejam matriculados; a persistência estratégica agora é para que eles aprendam com êxito; alcancem os níveis mais avançados de escolarização e, na idade certa, possam construir o seu futuro. A avaliação é mecanismo determinante nessa trajetória. 

Sendo um subsídio, um mecanismo de acompanhamento da ação pedagógica, a avaliação deve almejar que a aprendizagem ocorra, deve se dar na perspectiva da formação humana integral, numa lógica inclusiva, e não excludente e seletiva. 

Assim, para avançarmos da pedagogia positivista para a perspectiva da pedagogia dialética, é necessário rever a forma como escola, professores, comunidade educativa percebem a avaliação, em direção a uma perspectiva democrática, por meio de planejamentos conjuntos entre os educadores das diversas unidades curriculares, compreendendo e aplicando as diferentes funções da avaliação de forma equilibrada.

Segundo Haydt (1997), basicamente, a avaliação assume quatro funções: diagnosticar, controlar, classificar e investigar que são, então, os marcos gerados das respectivas modalidades:

  • A avaliação diagnóstica é aquela realizada no início de um curso, período letivo ou unidade de ensino, com a intenção de constatar se os estudantes apresentam ou não o domínio dos pré-requisitos necessários, isto é, se possuem os conhecimentos e habilidades imprescindíveis para as novas aprendizagens. É também utilizada para caracterizar eventuais problemas de aprendizagem e identificar suas possíveis causas, numa tentativa de saná-los.
  • A avaliação formativa, com função de controle, é realizada durante todo o decorrer do ano letivo com o intuito de verificar se os estudantes estão atingindo os objetivos previstos, isto é, quais os resultados alcançados durante o desenvolvimento das atividades. Visa, fundamentalmente, determinar se o estudante domina gradativa e hierarquicamente cada etapa da instrução, porque antes de prosseguir para uma etapa subsequente de ensino e de aprendizagem, os objetivos em questão, de uma ou de outra forma, devem ter seu alcance assegurado. Nessa perspectiva avaliativa, o estudante toma conhecimento de seus erros e acertos, a fim de buscar, juntamente com a mediação do professor, a evolução da sua aprendizagem.
  • A avaliação somativa, como função classificatória, realiza-se ao final de um curso, período letivo ou unidade de ensino, e consiste em classificar os estudantes de acordo com níveis de aproveitamento previamente estabelecidos, geralmente tendo em vista sua promoção de um ano para outro.
  • A avaliação dialógica se realiza pelo diálogo entre professor e estudante, tem por objetivo investigar se houve avanço na aprendizagem. Nesse processo, o professor busca informações para analisar situações de aprendizagem. “A avaliação, nessa lógica, é espaço de mediação/aproximação/diálogo entre as formas de ensino dos professores e percursos de aprendizagens” (SILVA; HOFFMANN; ESTEBAN, 2010, p. 15).

Essa forma de avaliação pode ocorrer por meio de debates coletivos integrativos, acolhendo cada estudante que manifestar desconhecimento ou curiosidade, tornando a sala de aula um espaço voltado para promover o desenvolvimento do aluno por meio da transformação dos equívocos em acertos ou aprendizagens. Nesse processo, não se descaracteriza a possibilidade do registro que pode ser pela gravação do debate ou mesmo pela ação de um relator, ou ainda, pela ação mediadora do professor que vai realizando os apontamentos acerca dos posicionamentos e argumentos de cada aluno (CANDIDO, 2014).

O quadro abaixo apresenta as diferentes modalidades de avaliação, tendo como fonte a autora citada.

Quadro 3: Diferentes modalidades de avaliação.

Modalidade Função Propósito
(Para que usar)
Época 
(Quando aplicar)
Diagnóstica Diagnosticar Constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados pelos alunos.

Fornecer dados para aperfeiçoar o processo de ensino e de aprendizagem.
Início do ano ou semestre letivos, ou no início de uma unidade de ensino.
Formativa Controlar Constatar se os objetivos estabelecidos foram alcançados pelos alunos.

Fornecer dados para aperfeiçoar o processo de ensino e de aprendizagem.
Durante o ano letivo, isto é, ao longo do processo de ensino e de aprendizagem.
Somativa Classificar Classificar os resultados de aprendizagem alcançados pelos alunos, de acordo com o nível de aproveitamento estabelecido. Ao final de um ano ou semestre letivo, ou ao final de uma unidade de ensino.
Dialógica  Investigar  Investigar se o aluno conseguiu avançar na aprendizagem. Durante o ano letivo, ao longo do processo de ensino e aprendizagem. 

Fonte: Haydt (1997, p. 19), com adaptações.

Diante do quadro 3, é salutar que o processo avaliativo se faça em um movimento constante de pensar e repensar de forma crítica. Esse movimento pode gerar novas proposições frente às necessidades das demandas de aprendizagem que vão se desenhando no cenário social contemporâneo.

Avaliar na perspectiva diagnóstica, formativa, somativa e dialógica tem sido uma forma de atender a essas demandas. Segundo Hoffmann (2014), porém, nós, como educadores e educadoras, devemos estar cientes sobre o quanto o processo de avaliação no ato educativo tem reproduzido as estruturas sociais e de poder do sistema capitalista.

Ainda segundo essa autora, a escola está estruturada com base no incentivo à competição, à superação do outro, ao saber particular, individualizado e isso contribui para a competição entre os profissionais da educação, reforça a resistência à aceitação de sugestões ou críticas sobre o seu trabalho, uma vez que isso envolve questões de autoritarismo e competência da sua disciplina. Essa resistência dificulta a interação necessária entre os professores para a problematização das situações e o levantamento de alternativas. 

Para superarmos a perspectiva da avaliação calcada na classificação e na exclusão, é recomendado utilizar, de forma equilibrada, as modalidades diagnóstica, formativa e somativa, a fim de que a verificação das aprendizagens adquiridas ocorra em todo o processo de ensino e de aprendizagem.

Da mesma forma, segundo Ausubel, Novak e Hanesian (1980, p. 501), a avaliação é importante em todas as etapas, ou seja, no início, durante e no fim de um período letivo e “significa emitir um julgamento de valor ou mérito e examinar os resultados educacionais para saber se preenchem um conjunto particular de objetivos educacionais”.

Para tanto, é preciso que os educadores reconheçam a necessidade de avaliar a partir de diferentes finalidades, para além da dimensão classificatória e excludente, tais como refletem os autores Leal, Albuquerque e Morais, (2006):

Avaliação a partir de diferentes finalidades em contraposição à prática da exclusão
Conhecer as crianças e os adolescentes, considerando as características da infância e da adolescência e o contexto extraescolar.
Conhecer e potencializar a sua identidade.
Conhecer e acompanhar o seu desenvolvimento.
Identificar os conhecimentos prévios dos educandos, nas diferentes áreas do conhecimento e trabalhar a partir deles.
Identificar avanços e encorajá-los a continuar construindo conhecimentos nas diferentes áreas do conhecimento e desenvolvendo capacidades.
Conhecer as hipóteses e concepções que eles possuem sobre os objetos de ensino nas diferentes áreas do conhecimento e levá-los a refletir sobre elas.
Conhecer as dificuldades dos estudantes e planejar atividades que os ajudem a superá-las.
Verificar se os educandos aprenderam o que foi ensinado e decidir se é preciso retomar os conteúdos.
Saber se as estratégias de ensino estão sendo eficientes e modificá-las quando necessário.

Fonte: Leal, Albuquerque e Morais (2006), com adaptações.

Para esses autores, diferentemente do que muitos professores vivenciaram como estudantes ou em seu processo de formação docente, é preciso que se elaborem diferentes estratégias e oportunidades de aprendizagem e avaliem se estão sendo adequadas, de forma que o processo avaliativo inclua não apenas os educandos, como também os educadores e a instituição escolar. Para tanto, é necessário avaliar: 

  • Se o estudante está se engajando no processo educativo e, em caso negativo, quais são os motivos para o não engajamento.
  • Se o estudante está realizando as tarefas propostas, e, em caso negativo, quais são os motivos para a não-realização.
  • Se o professor está adotando boas estratégias didáticas e, em caso negativo, quais são os motivos da não-adoção.
  • Se o professor utiliza recursos didáticos adequados e, em caso negativo, quais são os motivos para a não-utilização.
  • Se a escola dispõe de espaço adequado, se administra apropriadamente os conflitos e, em caso negativo, quais são os motivos para a não-administração.
  • Se a família garante a frequência escolar da criança ou jovens, se os incentiva a participar das atividades escolares e, em caso negativo, quais são os motivos para o não-incentivo.
  • Se a escola garante aos estudantes e suas famílias o direito de se informar e discutir sobre as metas de cada etapa de estudos, sobre os avanços e dificuldades revelados no dia a dia.

Diante desse cenário, a avaliação diagnóstica, segundo Leite e Kager (2009), representa uma importante alternativa, visto que supõe que o ato de avaliar deve implicar decisões assumidas sempre em favor e com o estudante, sendo os seus resultados utilizados no sentido de permitir aos atores do processo educativo rever e alterar as condições de ensino e de aprendizagem, visando o aprimoramento e a apropriação do processo de construção do conhecimento.

Os autores acrescentam que é importante ressaltar a necessidade do resgate da função diagnóstica da avaliação. Nesse contexto, ela é planejada e desenvolvida como uma situação de reflexão, preferencialmente envolvendo o conjunto dos educadores da escola, no sentido de buscar não só o avanço cognitivo dos alunos, mas propiciar as condições afetivas que contribuam para o estabelecimento de vínculos positivos entre os alunos e os conteúdos escolares. Com base nessa função, a avaliação poderá ter como principal finalidade o despertar das potencialidades do educando, bem como auxiliar o docente na busca de alternativas para o aprimoramento do processo de ensino e de aprendizagem. 

Ao diagnóstico, somam-se a avaliação formativa e, consequentemente, a avaliação somativa, também na perspectiva de ampliar a visão do docente sobre os aspectos didático-pedagógicos de ensino, de aprendizagem e de ensinagem, termo que, conforme nos diz Anastasiou (2012), indica uma prática social complexa efetivada entre os sujeitos. Nessa prática, que envolve educador e educando, tanto na ação de ensinar quanto a de aprender, surge um processo contratual de parceria deliberada e consciente para o enfrentamento na construção do conhecimento escolar, decorrente de ações efetivadas na sala de aula e fora dela. 

Como, porém, alcançar um equilíbrio em relação às funções da avaliação? Quais são os desafios? Quais são os caminhos possíveis? Sobre essas indagações, vamos dialogar a seguir.

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